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26 de nov. de 2008

 

A pausa que refresca Ou ressaca continental.




Começo a escrever estas incógnitas nas últimas notas de ‘Tale’, do Tomasz Stanko Quartett, grupo instrumental refinado, cuja música me vem tão melancólica que sinto como se tivesse acabado de regurgitar duas doses de uísque barato contrabandeado de Capone e metido uma bala na cabeça de Bogart.

É por aí.

Desocupei duas pastas estressadas de documentos de um processo judicial em que o sentimento corporativista beneficiou o lado errado. Ou não. Talvez jamais saibamos. Mas é uma memória margeada de feridas e quelóides.

Nisso, volto a tocar o álbum do Tomasz, pois a melancolia é realmente refratária nos dias de hoje: escapa como coelhos. E deve ser preservada, como vinho em tonéis de carvalho, como alaúde dos artistas e de todos que queiram dizer algo. Sim, compartilho em parte o pensamento do Arnaldo Jabor em sua coluna nO Globo de ontem.

A pasta que desocupei serviu como novo lar para receitas médicas. Numa delas, Azitron e Nisulid são receitadas para um eu caído em combate, um pré-jack Bauer funcionando 24 horas seguidas em 2003, tudo relacionado ao inominado processo, já findo, como pareço neurótico em não deixá-los esquecer.

O álbum chama-se Lontano. Assim como a música de doze minutos que aspiro como perfume enquanto digito olhando o cinza no alto de toda esta primavera.

A gripe se vai, o cansaço também, e o blues despede-se como uma velha amiga que acaba de sair da prisão, neste filme noir em preto, branco e impossível.


11 de nov. de 2008

 

A noção urbana do fim do mundo



Em Iguaba Grande, perdido no mapa, e sem imagens atualizadas dos satélites oferecidas pela Google, em meio a um mormaço ordinário em que falta luz em pleno almoço sem qualquer motivo ou explicação, um carro de som passa anunciando como sempre faz.
Todos ouvem as ofertas do dia do supermercado local, o jingle da papelaria e os detalhes da festa de funk que explodirá no final de semana.
Porém, o apocalipse inicia inesperadamente, quando o carro de som veicula o anúncio de uma igreja.
Exageros messiânicos meus à parte, lembro que anos atrás igrejas não anunciavam em busca de fiéis... Não pretendo que um raio caia na minha cabeça, então pararia por aqui, ainda com a pulga atrás da orelha, não fosse o carro de som passar novamente, respaldando meu relato gonzo-jornalístico.
Ouvindo melhor, percebo que anunciava-se um festival de música na igreja, e não A igreja. Como diria o Ancelmo Gois: "Ah, bom!"

5 de nov. de 2008

 

Obama, um brasileiro.




O sufrágio, ou seja o sistema em que os cidadãos de uma nação votam para escolher seu governante, é antigo, não é uma novidade há tempos, mas continua algo fantástico, fascinante.

O Rio de Janeiro viveu, há alguns dias, a expectativa de um quadro político de renovação, em que Fernando Gabeira e sua visão ética, social e ecologicamente responsável representavam a revolução para a quase exata metade dos eleitores da cidade partida.

E há 6 anos, o Brasil inteiro apostava na mudança, na figura de um ex-metalúrgico do ABC, o primeiro Presidente da República saído do seio do povo para o governo do maior país da América do Sul. Luís Inácio Lula da Silva tentou ser eleito desde 89, e não desistiu até ser acolhido pelo voto.

Hoje, um senador improvável, vindo de Chicago, tradicionalmente um lugar conhecido pela corrupção desde Al Capone, mas também um político de ideais e não de gratuitas ideologias, formado em Harvard, com trânsito no Quênia e Havaí, multiétnico até mesmo por natureza, conquistou, como diz a velha expressão, “os corações e mentes” dos americanos, e tornou-se Presidente eleito dos Estados Unidos da América.

Sim, Barack Hussein Obama tornou-se o 44º presidente americano. Somente por sua perseverança, seu espírito aguerrido, sua sensibilidade, inteligência, sua capacidade de construir consensos e obter apoios, e, porque não, o frio na espinha de seguir em frente, mesmo desbravando um território totalmente inexplorado, inédito, no qual, ao menos no início, ninguém parecia acreditar chegar, exceto ele.

Change! foi o slogan de Obama e o grito ecoado pelos milhões de americanos. Sempre é possível mudar, quando percebemos que estamos no caminho errado. Desejo uma ótima sorte a Barack. Que ele seja como o brasileiro daquela frase: O que não desiste nunca!

PS: Não me sai da cabeça a maravilhosa música Man in The Mirror (homem no espelho), de Michel Jackson. Seguem alguns trechos... Um abraço!

“I'm gonna make a change, for once in my life
It's gonna feel real good, gonna make a diference
Gonna make it right...

(Eu vou fazer uma mudança de uma vez em minha vida.
Vai ser bom de verdade, vou fazer uma diferença,
Vou fazer isso direito...)

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
And no message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
(If you wanna make the world a better place)
Take a look at yourself, and then make a change
(Take a look at yourself, and then make a change)

[Eu estou começando com o homem no espelho,
Eu estou pedindo a ele para mudar seus modos.
E nenhuma mensagem poderia ter sido mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor,
(Se você quer fazer do mundo um lugar melhor)
Olhe para si mesmo, e então faça uma mudança.
(Olhe para si mesmo, e então faça uma mudança)]”


Veja o clipe (já tem gente incluindo “Obama” no comentários desse vídeo!) : http://www.youtube.com/watch?v=iPSkurGQj-M

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