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6 de fev. de 2007

 

Maratona Odeon - Madrugadas Mágicas 2


Era o tipo que buscava, como um tesouro inalcançável, ficar acordado da hora de dormir até o dia seguinte. Não sem motivo, pois desbravar o silêncio hermético da noite significava para mim, aos oito anos, não fechar os olhos até o Corujão ou Sessão de Gala.

E na última sexta, lá estava eu, já adulto, pronto para a aventura de imergir em outra noite de longas-metragens. Desta vez não em casa, mas num cinema do Centro do Rio. Dos jovens e maduros presentes, de relance reconheci neles, os que como eu um dia, armados de lanterninhas sob os cobertores, e televisão no primeiro volume, enfrentariam incansáveis várias horas intermináveis de uma noite infante para vencer (e assistir) um filme.

Assim como naquelas madrugadas distantes, os filmes noturnos representavam para todos ali algo especial, pérolas que não eram exibidas à luz do dia. E assim, às 23:20h, meu anjinho e eu nos aconchegamos num Odeon lotado, cujas cadeiras avolumavam-se com a fauna diversificada das etnias pop da cidade, que viriam a formar uma massa uniforme de risadas quando o filme principal levantasse vôo na tela.

E esse filme era Borat, uma espécie de pegadinha levada às últimas conseqüências, com muito bizarro e nonsense, e uma inteligência disfarçada de rudeza para falar de temas como preconceito étnico, sexo, violência, aparências e principalmente a face arruinada do América, ou como diria o protagonista, que se traveste de repórter do Casaquistão: “US and A”.

A mecânica da maratona consiste numa pré-estréia, seguida de um filme surpresa e um filme mais antigo no fim. Nos intervalos das sessões, praticamente meia-hora ou mais de discotecagem no simpático segundo piso do cinema, na área em torno das sacadas. Quando raia o dia, ainda é oferecido café com bolo aos insones e “recém-despertos”.

Ao acordarmos com um leve e intermitente torcicolo e tendo à frente os créditos de “Cecil Bem Demente” passando, não tivemos certeza se havíamos sonhado com as belas canções do filme surpresa da noite “Dreamgirls”, ou se eram as vozes dos seguranças gritando para todos se levantarem que nos davam tal impressão. Mas de uma coisa não duvidávamos... éramos “recém-despertos”.

Realmente a maratona lembra as madrugadas que quando crianças tentávamos virar. Porém, diferentemente da infância, não pude contar com minha caminha quente me esperando depois. Saindo dali, tínhamos compromisso bem cedinho a cumprir. Bem... temos uns minutinhos de sono no ônibus. Me acorde no ponto final.

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