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10 de mar. de 2008

 

Lutando o bom combate.

Olhe pro lado. Pode ser que não saiba, mas bem próximo há um homem que passa desapercebido por todos a maior parte do tempo. Em toda parte há alguém assim.
Um dia, esse homem abre seu casaco dentro de um café israelense e explode a dinamite amarrada na altura de seus rins.

Não. Esse homem deve ser o extremo oposto. Deve ser como ‘Harmonica’, o personagem de Charles Bronson em “Era uma vez no Oeste”, e transitar pelos acontecimentos, pelas transformações e rebuliços causados pela expansão do Oeste Bravio sem desviar-se de sua trajetória, sem sair de seus trilhos, apenas reagindo, sem deixar de tocar seu instrumento de sopro.

E esse homem sinceramente pode ser um humanista, disfarçado de escravo. Ter um passado tão desconhecido quanto o futuro que se descortina pelas suas ações. Como “Spartacus”, o personagem-título da ode ao livre arbítrio, à liberdade humana, executada pelo mestre Stanley Kubrick.

Recentemente vi ‘Spartacus’, e simpatizei com suas obsessões, virtudes e fraquezas, e desde o primeiro momento desejei dedicar-lhes algumas linhas. Sempre no aguardo do fio condutor, do motor que exercitasse e resumisse tal simbologia.

Esse motor, eu diria, motor de explosão, se fez hoje, ao som das rajadas de balas de “John Rambo”, conhecido aqui como “Rambo IV”. Na amargura do ressurrecto personagem de Sylvester Stallone, tanto inocência preservada quanto arrasada pelas dores que espírito algum foi feito para suportar.

No caso de Spartacus, a escravidão. No de Rambo, a guerra. Ao longo da vida do primeiro, a guerra torna-se inevitável. Já, Rambo, torna-se escravo da própria agonia.

O que iguala estes homens, duros por natureza, são as forças que lhes movem, e as forças que eles pensam lhes mover.

Spartacus é um pacifista, um humanista, sensível o suficiente para saber que sua liderança em um levante de escravos possivelmente levaria todos à destruição frente ao império romano. Mas ainda assim ele o faz, em nome do direito à liberdade, sem imaginar que também o faz por amor. Por amor à escrava que salvou em primeiro lugar, por amor ao filho que logo nasceria.

Rambo, ou melhor, John, belicista por longos anos, e hoje pacifista, não possui muitos traços de humanismo, o que nunca o impediu de salvar sua pátria muitas vezes. E John é inteligente, e em seu quarto longa vive um período longe de tudo que possa identificá-lo, longe de tudo que possa fazer com que ele continue sendo quem é. Distante há décadas de família, conhecidos, histórias e guerras.

Sim, o belicista queria distância das guerras, mas, assim como Spartacus, uma mulher cruzou seu caminho. No caso de Rambo, os sentimentos confundiam-se: Carinho, proteção, amor maternal, fraternal, sexual (?), não há como ter certeza. O que importa é que isso também lhe move, embora John pense estar fazendo tudo isso apenas pelo fato da guerra estar em seu sangue, e não ter como escapar dela.

Dadas as diferenças de proposta de cada filme, os destinos dos heróis (ou anti-heróis) ao final são igualmente vitoriosos. Mais realista, mais marcante e incendiário em suas idéias pacifistas, Spartacus termina com seu protagonista crucificado, não sem antes perceber que sua missão, mesmo que em parte, fora cumprida.

Por seu turno, Rambo tem mais sorte, e, incitado pela moça que salvara, atende aos apelos de seu âmago, e retorna ao lar, retorna ao Arizona, à fazenda de seu pai.

Homens de fibra, ambos perderam muito, ganharam um pouco, sentiram o doce vento de um sentimento de mudança vindo de uma mulher, e sobreviveram em suas histórias, em seus épicos. Se estivesse vivo, Charles Bronson poderia retomar seu “Harmonica”, e cantar-nos a canção deles a noite inteira, escura e implacável.

Comments:
Eu amo tecnologia (ironia). Fiz um enorme comentário que foi sumariamente detonado... ai ai.

Voltei a escrever no meu blog, passa lá depois, se não me reconhecer de cara leia o post anterior e vc saberá (hua hua hua!).

Não tenho mais saco pra ver filme norte-americano tipo Rambo. Não vejo mais poesia, só propaganda e isso me irrita. Assim como tropa de elite, as pessoas assistem esse tipo de filme e depois ficam repetindo que nem vacas de presépio com molas no pescoço...

Por mim podiam matar todos os roteiristas vendidos. Mas o final todas as nações querem é vender seu peixe e fazer a sua propaganda pra conseguirem mais massa consumista pra sugar.

Muito bons seus posts!
Beijos!
 
Adorei seu post. Nunca conseguiria encontrar o cruzamento desses filmes se você não tivesse comentado.

Interessante é o espelho da vida na arte no qual o homem tanto misturado e incentivado pela guerra, com a postura firme, séria, força, rigidez, cria uma fraqueza (ao meu ver) pela sensibilidade feminina de imagem frágil. Nisso, desperta nele a vontade de não atacar para destruir, mas para proteger.
Grato pelo post.
 
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